A FALTA DE EDUCAÇÃO NAS EMPRESAS
A FALTA DE EDUCAÇÃO NAS EMPRESAS
Por LUIZ CARLOS MORENO (*) e
SILVIO LUIZ DE FLÓRIO (**)
”Ou você tem uma estratégia ou é parte da estratégia de alguém." Alvin
Toffler
Estudos, notícias e publicações
recentes alardeiam “o apagão de mão de obra” ou mais requintadamente “escassez
de mão de obra qualificada”.
Desejamos partilhar nossas
percepções e experiência com o assunto, enquanto professores e consultores na
área de Recursos Humanos, tendo portanto uma convivência teórica e prática com
o tema, o que antecede ou exclui o alcance político momentâneo do discurso.
Começamos por rever alguns
conceitos, freqüentemente utilizados como sinônimos, o que na prática não é
muito consistente e tem implicações técnicas nas aplicações:
·
EDUCAÇÃO
– processo que se realiza ao longo da vida, de desenvolvimento da capacidade física, intelectual
e moral da pessoa e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração
individual e social. Os conhecimentos ou as aptidões resultantes de tal
processo; preparo. Aperfeiçoamento integral de todas as faculdades humanas.
Atribuição de responsabilidade da família, do indivíduo, da sociedade e da
empresa.
·
TREINAMENTO - Ensinar
aos funcionários de nível subordinado a desempenhar suas funções atuais. Noção
de tempo: imediata. Atribuição de responsabilidade da empresa.
·
DESENVOLVIMENTO - Ensinar
aos gestores as competências e tarefas genéricas necessárias para desempenhar
suas funções atuais e futuras. Noção de tempo: curto / médio prazo. Atribuição
de responsabilidade da empresa e do empregado interessado ou envolvido.
Podemos referir que o conceito
“mão de obra” está deslocado para traz no tempo e remonta à primeira ´onda
agrícola´ que durou cerca de 10.000 anos ou a segunda ´onda industrial´ que já
tem a idade 300 anos e tem como base a força muscular e movimentos repetitivos
em número de 8 a 15 por dia de trabalho, para utilizar as famosas expressões
cunhadas por Alvin Toffler (1928-), na
obra A Terceira Onda (1980). Quer dizer, já não faz muito sentido usar esse
conceito hoje.
Nos atendo aos principais motivos
de dificuldades de contratação alegados nas pesquisas, que sempre são
semelhantes nos resultados, da nossa ótica, temos algumas observações.
- Escassez de profissionais capacitados. De quais profissionais
estamos falando? Capacitação, na terminologia técnica é aptidão + treino.
Aptidão tem de ser identificada na pessoa, o treino, como já vimos, há de ser
proporcionado pela empresa, para a tarefa ou comportamento desejado. Não é
lícito responsabilizar a escola em qualquer nível. Escola não prepara os
indivíduos para a realização de tarefas, prepara para a cidadania, para a vida
em sociedade.
- Atender a pretensão de remuneração dos candidatos. Salário é um
produto no mercado que atende a lei da oferta e da procura. Parece que algumas
empresas e alguns candidatos a emprego não entendem e não levam a sério. Ficam
encastelados em suas posições intransigentes. De um lado, a empresa deseja
pagar o mínimo possível por uma ótima formação ou qualificação, sem se importar
quanto ela demandou de investimento pelo candidato. De outro lado, alguns
candidatos, ancorados em suas titulações – o que não quer dizer experiência –
desejam elevadas remunerações, não condizentes com o mercado, em cargos de sua
escolha, não necessariamente os que a empresa oferece. Uma queda de braços onde
ambos perdem.
- Falta de experiência na função. Não ria, mas já lemos anúncios em
jornais que ofereciam vagas para “estagiários com experiência”. Nenhum
estudante concluí a formação com experiência de trabalho. Quando muito, com
iniciativas e mais freqüentemente com idéias. Compete às empresas criar e administrar
programas de ´trainees´, programas decentes de estagiários. Se der oportunidade
e treinamento para estagiários, as possibilidades de efetivação crescem
exponencialmente. Muito se pratica no mercado, a contratação de estagiários
como mão de obra de baixo custo, a empresa não oferece oportunidade de
aprendizado do trabalho nem de crescimento. Desmotivado e desinteressado o
estagiário vai embora.
- Aceitar trabalhar fora da área de formação. É difícil imaginar que
uma pessoa que estuda para obter uma formação num campo que ela escolheu, vá
trabalhar em outra, que nada tem a ver com ela, com seus ideais, objetivos e
sonhos. Alguns até o fazem num período enquanto estudantes, para custear os
estudos, mas em seguida, vai procurar se integrar na sua área de formação ou
atividades a ela inerentes.
- Características pessoais incompatíveis com a empresa. O que se quer
dizer com isso? Em geral, nos dias de hoje, as empresas pedem que as pessoas
sejam assertivas, conformidade às regras, desenvolvimento contínuo, eficácia
pessoal, flexibilidade, gerenciamento de conflitos, tenham iniciativa, sejam
inovadoras, tenham capacidade de liderança, sejam boas negociadoras, sejam
capazes de relacionamento interpessoal saudável, e capacidade de trabalho em
equipe. Evidente que algumas dessas características pessoais são incompatíveis
entre si e de fato, não vamos encontrá-las reunidas numa pessoa. Tem também a
questão ética, muito cobrada hoje em dia que colide com expectativas de muitas
empresas: - fazer o que for mandado, sem hesitar ou questionar; subir e
conquistar posições mesmo passando por cima de outras pessoas; - vender, fazer
o negócio a qualquer preço porque a empresa precisa faturar mais.
Como exemplo hipotético, nos
referimos a uma avenida de grande movimento onde tem lanchonetes, restaurantes,
etc. Avaliando a qualidade dos serviços ficamos imaginando como as pessoas que
fazem o serviço de atendimento. O gerente se postou na calçada em frente ao
estabelecimento e “laçou” algumas
pessoas que vindo de outros serviços passavam por ali. O gerente “laçador”
perguntou:
- Quer fazer um bico? Ganhar uns
R$ 50,00 reais até as 22 – 23 horas?
É esse contratado que não anota o
pedido corretamente, traz a bebida mas não traz o abridor, derruba os produtos
na mesa ou na sua roupa...e por aí vai.
A culpa é dessa pessoa?
Absolutamente não. Ela precisava de uns trocados a mais.
A responsabilidade é da empresa
que não contrata adequadamente, não treina e presta um serviço de péssima
qualidade. Um trabalhador de qualidade, com competência, precisa de
investimento.
Para finalizar, este artigo, não
para concluir o assunto que comporta outras análises e outros fatores,
percebe-se também a ausência de diálogo entre empresas e escolas. Elas não se
aproximam e não se conhecem. No máximo é para pedir ou oferecer descontos para
os interessados. Se o foco fosse a parceria e a colaboração elas poderiam se
complementar de forma extremamente satisfatória, produzindo excelentes
resultados para as escolas, alunos,
empresas e mercado. A escola pode atender a empresa em demandas educacionais
específicas. A empresa deve se aproximar da escola para atender as suas
demandas de formação em programas sob medida. Todos ganham e ficam satisfeitos.
* LUIZ CARLOS
MORENO - Pedagogo.
reg. MEC nº. 4731/93. Especialista em Educação, Filosofia e Recursos Humanos,
habilitado em
Administração; Supervisão ; Orientação Educacional. Professor
e Coordenador Universitário . Membro da Academia Ribeirão-pretana de Educação –
ARE, cadeira 17. Consultor em Desenvolvimento Humano (Educação; Filosofia e
Recursos Humanos).
** SILVIO
LUIZ DE FLÓRIO - Possui graduação em
Psicologia pela Universidade Paulista (1989) e mestrado em Administração pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2000). Atualmente é consultor -
Support Assessoria Empresarial, empresa de assessoria em Recursos Humanos.
Professor adjunto da Organização Educacional Barão de Mauá, professor da Faculdade
de Direito e Administração Catanduva, professor adjunto - Faculdades COC,
professor da Fundação Educacional de Fernandópolis e professor adjunto i da
Universidade Paulista.
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