APAGÃO DE QUÊ?
APAGÃO DE QUÊ?
Frequentemente tenho ouvido de
empregadores a expressão “apagão de mão de obra”, ainda que no mundo
contemporâneo nem sempre precisamos apenas das mãos, de vez que grande parte
das atividades cotidianas da maioria dos tipos de empresas requerem capacidades
cognitivas, de raciocínio, intelectual, emocional; e de candidatos a expressão
faltam empregos.
Pronto: temos um cenário chamado
‘crise’ no mercado de trabalho.
Sem nenhum otimismo gratuito,
reconhecemos neste momento uma retração na economia evidenciada por um quadro
de desemprego, demissões, baixas vendas, baixos salários, queda na produção
industrial, ajustes de orçamentos privados e domésticos. Públicos,
necessariamente não.
Distribuindo a análise em dois
cenários, vamos encontrar que, os empregadores desejam contratar pessoas
talentosas, bem formadas, com iniciativa e ousadia, que mudem o quadro geral de
carências da empresa.
Para um profissional desse
gabarito se propõem a pagar o salário mínimo!
De outro lado, alguns candidatos
a emprego alardeiam “aceito qualquer proposta”, preciso é trabalhar!
Então percebemos que tem algo em
desalinho. Porque quando dialogamos com alguns desses candidatos sobre como foi
a entrevista, obtemos as seguintes avaliações, “olha, eu agradeço muito, mas
pelo que estão pagando, eu prefiro ficar parado”.
Cumpre entender duas coisas, para
os dois lados:
1) Empregadores: talento, boa formação,
iniciativa e ousadia para enfrentar desafios, de vez que é produto ou
habilidade rara no mercado, portanto, produto ou habilidade em demanda, tem
preço alto.
2) Candidatos: qual o seu investimento em
você? Suas habilidades tem valor no mercado. Cada competência adquirida,
incorporada, aperfeiçoada vale pontos na sua cotação para um emprego, para uma
vaga.
Um terceiro aspecto, não muito
considerado, mas que fica entre os dois pólos, é a atribuição da atração e da
seleção. Quem está realizando o processo, com quais critérios.
Os profissionais estão sempre
dispostos a uma entrevista, mesmo para avaliar sua empregabilidade e ou
potencial no mercado. Eventualmente enviam um currículo para uma oportunidade
que lhes parece interessante.
Recentemente, um profissional do
nosso relacionamento, já com uma carreira consolidada, numa dessas pesquisas,
foi contatado por uma grande empresa, digamos, do mesmo porte que sua então
empregadora.
Segue – se, com muita proximidade
a reprodução do diálogo entre o selecionador e o candidato;
- Boa tarde, estou falando com o
Sr. X? (Note que ligou para o telefone móvel dele, portanto, é de se esperar
que.)
- Boa tarde, ele mesmo.
- Eu sou Fulano de Tal, da empresa
Fim do Mundo S/A e tenho o seu currículo em mãos. Desejo verificar com o senhor
o real interesse na vaga que oferecemos.
- Sim, quais as condições?
- É o seguinte, precisamos de
alguém com sua experiência e formação, que tenha carro próprio, com no máximo
um ano de uso. Viajará pelo Estado de São Paulo e de Minas Gerais, de segunda a
sexta-feira, contatando, orientando e dando treinamento de uso do nossos
materiais e produtos. Oferecemos ajuda de custo para o combustível, quinze
reais por dia para alimentação, salário de um mil e duzentos reais, mais
participação nos lucros e resultados.
- Nossa! Que maravilha! E mais
alguma coisa?
- Não senhor, isso é tudo. Aceita
participar do processo seletivo ou não.
- Agradeço sua atenção, mas não
aceito. Muito obrigado por ter me ligado.
- Se o senhor não aceita, porque
então me faz perder o meu tempo com o senhor?!
Houve ainda a tentativa desse
candidato argumentar: - “se o senhor leu o meu currículo deveria ter observado
alguns indicadores que não sou um profissional para o nível de remuneração que
sua empresa está oferecendo”. Mas aí também já era demais.
- Então o senhor perdeu seu tempo
também.
Algumas considerações sobre o
processo de atração e seleção:
1) A
empresa sabe realmente qual o perfil desejado ou está divulgando peças de
ficção?
2) Quem
definiu o perfil, com base em quê?
3) As
pessoas a quem atribuíram o processo, têm pelo menos bom senso, além de
qualificação?
Nossa observação profissional:
parece que muitas empresas delegam essa atribuição aos menos qualificados
possíveis. Como atividade rotineira, chata, sem nenhuma importância, não
estratégica, apenas e meramente funcional.
Enfim, por exercício literário ficcional,
denominei a empresa de Fim do Mundo S/A, embora o caso tenha sido real. Que
nome o leitor daria?
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