AMIGOS E CONVIVENTES - COMENTÁRIOS AO TEMPO ABSURDO II - LUIZ CARLOS MORENO

21052020 - AMIGOS E CONVIVENTES - COMENTÁRIOS AO TEMPO ABSURDO II

 

Neste tempo de contenção, confusão política e de isolamento social, de coisas absurdas descobri que existem dois tipos de pessoas quem me relaciono:

I - Os amigos

Do latim amicu, amigo, confidente, querido, favorável. Quem você ama e que ama você, independentemente de qualquer relação familiar, passional ou erótica. Nossos amigos, nós escolhemos.

II - Os conviventes.

Simplesmente aquelas pessoas que convivem com outras. Assim, sem maiores explicações, envolvimentos.

Insiro nesta reflexão, a definição de amizade, como Voltaire ((1694-1778), a descreve no seu Dicionário Filosófico: “Contrato tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Sensíveis porque um monge, um solitário, pode não ser ruim e viver sem conhecer a amizade. Virtuosas porque os maus não adjungem mais que cúmplices. Os voluptuosos careiam companheiros de devassidão. Os interesseiros reúnem sócios. Os políticos congregam partidários. O comum dos homens ociosos mantém relações. Os príncipes têm cortesãos. Só os virtuosos possuem amigos”. “... O entusiasmo da amizade foi mais forte entre gregos e árabes que entre nós. São admiráveis as histórias que teceram esses povos em torno deste sentimento. Não temos iguais. Somos em tudo um pouco secos”.

No seu lirismo peculiar, Vinicius de Morais (1913 – 1980) escreveu um verso maravilhoso sobre o amigo: “Sempre comigo um pouco atribulado e como sempre singular comigo”. E mais adiante segue: “O amigo: um ser que a vida não explica que só se vai ao ver outro nascer e o espelho de minha alma multiplica...”

 A diferenciação proporciona uma visão peculiar de vez que os amigos são aquelas pessoas permanentes em nossas vidas e de alguma forma dão um jeito de estar conosco. Não importa que jeito é esse. Telefonam, chamam em vídeo, enviam mensagens pessoais.

Os conviventes são aqueles que estão, mas não são. Se não estivessem, seriam outros em seu lugar e não faria muita diferença. De fato, não estão nem um pouco ocupados conosco. Nem se importam com a nossa existência porque nada tem a ver com ela. Seus contatos são esporádicos e impessoais. Nunca se ocupam de nós, nunca perguntam ‘como estamos’ ou se estamos. Enviam mensagens apócrifas via redes sociais, dessas que poluem o mundo das comunicações desnaturadas, simplesmente pelo automatismo incorporado de reenviar porque ‘acharam legal’ (isso supõe que o outro também acharia), ou suas preferências representadas por recortes de jornais televisionados. Como se já não bastasse a televisão ligada para nos deixar doentes.

Os amigos são aqueles seres humanos necessários em nossas vidas, são parte indissociável dela. Perguntam como estamos, o que estamos lendo, que filmes assistimos, o que estamos fazendo; trocam textos e artigos consistentes em conteúdo. Nos enriquecem e iluminam a nossa existência apenas por pensar em nós.

Os conviventes nem tanto, porque são intercambiáveis. Lembramos deles pelas mensagens inconvenientes, senão, não fariam falta nenhuma por sua insignificância.

Evidente que o número de amigos é muito menor do que o número dos conviventes. Mas o diferencial é qualitativo, não quantitativo.

E você que por consideração ou curiosidade intelectual leu este texto, em face destas reflexões extemporâneas já descobriu quem são seus amigos e quem são os conviventes?

 

LUIZ CARLOS MORENO – COGITAÇÕES IMPERTINENTES

 

 


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