DICIONÁRIO – HISTÓRIA DE UMA PAIXÃO
DICIONÁRIO
– HISTÓRIA DE UMA PAIXÃO
Na
juventude, me apaixonei pelos dicionários. Decidi que aprenderia pelo menos uma
palavra nova a cada dia. Se não aprendi muitas, das 400 mil existentes na
Língua Portuguesa, tenho uma boa percepção e entendimento do significado de
várias.
Em
1984, no dia 09 de novembro, ao preço de Cr$ 58.000 (cinquenta e oito mil
cruzeiros) – sabe-se lá o que isso custaria hoje – dei-me de presente a 1ª.
edição, 14ª impressão do Novo Dicionário da Língua Portuguesa – Século XXI, do
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.
O tempo
permanece e a vida segue, tudo muda. No dia 21 de junho de 2000, outro
presente, o mesmo dicionário, agora eletrônico em formato de cd-rom, ao preço
de R$ 51,75 (cinquenta e um reais e setenta e cinco centavos) – também não
tenho idéia do quanto isso custaria hoje.
Mas os
dois me valeram e ainda valem muito.
Assim como a Pablo Neruda, que
escreveu na Ode ao Dicionário: ”Dicionário, não és tumba, sepulcro, caixão, túmulo,
mausoléu, és senão preservação,
fogo escondido, plantação de rubis, perpetuação viva da essência, celeiro do
idioma”.
Como o significado está no
dicionário e o significante na mente de quem profere ou utiliza o vocábulo, frequentemente
questiono nas aulas: - quem tem um dicionário em casa? Alguns respondem que
sim. Questiono novamente: - sabe onde está? Há quanto tempo você ‘não’ o
utiliza?
Sempre
fico encantado com o que já pensaram e escreveram desde os primórdios da
humanidade, e simultaneamente sem entender porque aprendemos tão pouco, na
medida de relegando a história ao desprezo, repetimos e repetimos os mesmos
erros...
Num
momento histórico da vida que chamarei de maturidade, a leitura das obras dos
pensadores me seduziu, e esse momento perdura. É claro que tive de buscar ajuda
nos dicionários de Filosofia... Dessa forma, continuo lendo dicionários por
prazer e também como ferramenta de trabalho intelectual.
Neste
momento, me interessa o tema “ignorância”. “Imperfeição do conhecimento, mais
precisamente, a imperfeição da deficiência, inseparável do saber humano e
decorrente das limitações do homem”. (ABBAGNANO, Dicionário de Filosofia. Ed.
Martins Fontes, 2003). Está num plano muito amplo, filosófico mesmo...Vamos
traduzir: ausência de conhecimento; ignorância quer dizer ‘não saber’.
Mas
nestas leituras e pesquisas, encontrei um vocábulo que me deixou impressionado
pela atualidade, contexto e perenidade: ‘imbecil’. Muitas pessoas utilizam a
expressão para ofender outras, sem saber o real significado, o que é comum nos
dias de hoje.
“Imbecil
é essencialmente um fraco de espírito. Tem imaginação desordenada, as
associações rápidas e incoerentes, a atenção desperta, mas instável; apesar da
sua incapacidade para conseguir ou mesmo completar aquilo que faz, conserva uma
elevada opinião acerca de si mesmo; gosta de reclamar e de reivindicar os seus
direitos; é rebelde ao trabalho, empreendendo coisas inúteis e maléficas,
impulsivo, indisciplinado, vagabundo; gosta de se mostrar desobediente ou
grosseiro. A sua sugestionabilidade é grande, mas especializada, é pouco
sensível aos bons tratos, mais à ameaça e sobretudo à lisonja”. (LALANDE,
Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. Ed. Martins Fontes, 1999).
Depois
nos deparamos então com os contrários
SABER – que é
conhecer, estado de espírito que conhece; relação do sujeito que pensa com um
conteúdo objetivo do pensamento, formulável numa proposição, de que admite a
verdade por razões intelectuais e comunicáveis.
O
saber opõe-se:
1º à
ignorância,
2º à
opinião e
3º à
fé ou crença.
SAPIÊNCIA – é o
conhecimento superior das coisas excelentes.
Características:
1º Por
ser o grau mais elevado de conhecimento, ou seja, o mais certo e completo;
2º por
ter como objetivo as coisas mais elevadas e sublimes, que são as coisas
divinas.
Alguns
autores preferiram definir como “a conduta racional da vida humana”. Podemos
ampliar entendendo que a sapiência vai além do raciocínio, da elaboração intelectual.
SABEDORIA
–
Característica daquele que é sábio. Característica das ações ou dos juízos
sábios. O mais antigo nome da Filosofia foi Sabedoria. Ela aparecia então como
a unidade da ciência... Causa, natureza e fim do mundo e do homem...
providência neste mundo, organização das cidades, conduta na vida, o sábio
propõe-se ao mesmo tempo estudar todos esses problemas... O olhar único mas
profundo, triste mas penetrante que lançará à sua volta e para o céu este ser
que sente e pensa e que desperta no meio da imensidão, perdido e ignorando-se a
si próprio, esse olhar exige menos que a sabedoria?” Renouvier, Manual de
Filosofia antiga. (LALANDE, Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. Ed.
Martins Fontes, 1999).
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