Filosofia em 60 segundos - ANDREW PESSIN - anotações de leitura

 

Você não é o que come

Dê uma mordida naquele hambúrguer. O que agora está entrando em seu corpo são vários átomos como hidrogênio, oxigênio, carbono etc. A maioria deles, na verdade, foi originalmente criado dentro de estrelas distantes que depois explodiram e se espalharam por todo o cosmos. Então, o que está se transformando em você surgiu originalmente de dentro de uma estrela. (Sua mãe sempre dizia que você era estrela; desta vez estava certa.)

Mas, espere: transformando-se em quem, exatamente?

Você é o que come, dizem as pessoas. A ideia é presumivelmente que você é somente as moléculas que fazem parte de seu corpo. Só que existe um problema aqui. Essas moléculas estão mudando constantemente. A cada momento, você está exalando, suando e derramando um monte de moléculas; por outro lado, inalando e ingerindo outras. Mas se você é a mesma pessoa que começou a ler este capítulo há alguns momentos, enquanto suas moléculas não eram as mesmas, portanto você não pode ser apenas suas moléculas.

Na verdade, cada molécula no seu corpo é subs­tituída aproximadamente a cada sete anos. Se você é somente suas moléculas, então não é meramente uma pessoa um pouco diferente da que era há sete anos, é uma pessoa totalmente diferente. Do lado positivo dá para se dissociar completamente daquele bobão que você era na escola, mas, no lado negativo, não é mais óbvio porque você teria o direito de usar a poupança que ele começou. Imagine agora que as moléculas que o constituíam há sete anos pudessem ser reunidas e remontadas. Se você é simplesmente suas moléculas, então esta cole­ção é você também, apenas uma versão mais jovem. Mas aí haveria dois vocês, o que certamente parece es­tranho - pelo menos tão estranho quanto a briga que vocês dois teriam sobre quem é o dono da poupança.

Eu pessoalmente como muito mal. Nada de grãos. Tampouco existe algo que não fique melhor com açú­car, incluindo o próprio açúcar. O filósofo em mim não tem certeza de quem ou que sou, mas ele pelo menos sente algum conforto ao saber que não somos o que comemos.

Fonte:

PESSIN, ANDREW. Filosofia em 60 segundos. – São Paulo: Leya, 2012. p.59 - 60

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