RUMO A PROLETARIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO
RUMO
A PROLETARIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO
O treinamento de futuros professores é
um campo no qual o domínio da racionalidade técnica tem se manifestado. Como
Kleibard, Zeichner, Giroux e outros salientaram, os programas de educação de
professores, nos Estados Unidos, têm sido, há muito tempo, dominados por uma
orientação behaviorista, em que se persegue a especialização e o refinamento
metodológicos como bases para o desenvolvimento da competência do professor.
(...)
Dentro desse
modelo behaviorista de educação, os professores são considerados mais como
obedientes servidores civis, desempenhando ordens ditadas por outros, e menos
como pessoas criativas e dotadas de imaginação que podem transcender a
ideologia dos métodos e meios a fim de avaliar criticamente o propósito do
discurso e da prática em educação. Muito frequentemente, os programas de
formação de professores perdem a visão da necessidade de educar os estudantes
para se tornarem profissionais críticos, mas desenvolvem cursos que focalizam
os problemas imediatos da escola e que substituem, pelo discurso do
gerenciamento e da eficiência, a análise crítica das condições subjacentes à
estrutura da vida escolar. Ao invés de ajudar o estudante a pensar sobre quem
é, sobre o que deve fazer na sala de aula, sobre suas responsabilidades no questionamento
dos meios e fins de uma política escolar específica, os alunos são frequentemente
treinados para compartilhar técnicas e para dominar a disciplina da sala de
aula. para ensinar um assunto eficientemente e organizar o melhor possível as
atividades diárias. A ênfase do currículo de formação do professor está em
descobrir o que funciona (...)
Se os futuros
professores são frequentemente treinados para se tornarem técnicos especializados,
os futuros administradores escolares são formados segundo a imagem do
especialista em ciências econômicas. Richard Bates e William Foster salientaram
que muito do treinamento de administradores escolares, diretores e superintendentes
é estritamente técnico, voltado principalmente para produzir uma função entre a
teoria organizacional e os princípios de um "saudável" gerenciamento
de negócios. Inerente a tal treinamento, está a noção de que os sistemas complexos
de linguagem, os controles de gerenciamento e os sistemas de quantificação
colocam-se além da capacidade de entendimento de professores e de pessoas
leigas, comuns. A consciência tecnocrática, incorporada nessa abordagem, não
está somente em desacordo com o conceito de controle descentralizado e com os
princípios da democracia participativa, mas apresenta também uma visão
a-histórica e despolitizada da administração escolar. A escola não é
considerada como espaço de luta quanto a diferentes ordens de representação,
ou como espaço que incorpora configurações particulares de poder, que formam e
estruturam as atividades da sala de aula. Ao contrário, a mesma fica reduzida
à lógica estéril de gráficos de fluxos, à crescente separação entre professores
e administradores e a uma tendência cada vez maior à burocratização. A mensagem
aqui oculta diz respeito à utilidade da lógica da racionalidade tecnocrática
para evitar que os docentes participem de uma maneira crítica da produção e da
avaliação dos currículos escolares. Por exemplo, a forma tomada pelo
conhecimento escolar e a pedagogia usada para legitimá-lo tornam-se
subordinadas aos princípios da eficiência, da hierarquia e do controle, Uma consequência
disso está no fato de que são subtraídas, da influência coletiva dos
professores, as decisões e as questões sobre os seguintes temas: o que vale
como conhecimento, o que é importante ensinar, a forma como se julga o objetivo
e a natureza do ensino, a forma como se vê o papel da escola na sociedade e a consequente
compreensão dos interesses sociais e culturais que modelam todos os níveis da
vida escolar.
(Henry Giroux, Escola
crítica e política cultural, 1987, p 13-16.)
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