AS LEIS NA NATUREZA HUMANA - ROBERT GREENE - anotações de leitura
GREENE, Robert. As leis da natureza humana. – São Paulo: Planeta, 2021.
p.10 - A verdade é que nós, seres humanos, vivemos na superfície, reagindo emocionalmente ao que as pessoas dizem e fazem. Formamos opiniões muito simplificadas a respeito dos outros e de nós, contentando-nos com a história mais fácil e convincente que contamos a nós mesmos.
p.23 - Suas emoções fazem que você veja o que quer ver, dependendo do seu estado de espírito, e essa desconexão com a realidade é a fonte das decisões ruins e dos padrões negativos que o assombram. A racionalidade é a habilidade de neutralizar esses efeitos emocionais, pensar antes de reagir, abrir a mente para o que está acontecendo de fato, não para o que você está sentindo.
p.30 - [...] as emoções mais perigosas – agressão, ganância, arrogância, egoísmo.
p.31 - [...] a mente humana precisa adorar alguma coisa, precisa ter a sua atenção direcionada para algo que valorize acima de todo o resto. Para a maioria das pessoas, é o próprio ego; para algumas, é a família, o clã, o deus para quem rezam, ou a nação.
p.31 - [...] nous – a palavra em grego antigo que significa “mente” ou “inteligência”. Nous é uma força que permeia o universo, criando significado e ordem. A mente humana é atraída por natureza pela ordem; essa é a fonte da nossa inteligência.
p.32-33 - Entenda: como todo mundo, você se considera racional, mas não é. A racionalidade não é um poder com o qual se nasce, mas, sim, que se adquire por meio de treinamento e prática.
p.61- Todos possuímos, por natureza, a ferramenta mais impressionante para nos conectarmos com os indivíduos e adquirir o poder social – a empatia.
p. 61 - A nossa sobrevivência e a nossa felicidade dependem
dos laços que formamos com os outros.
p.67 - É irônico que a palavra narcisismo tenha passado a significar amor pela própria identidade, quando, na verdade, os piores narcisistas não têm uma identidade coesa para amar, o que é a raiz do problema.
p.70 - Como qualquer habilidade, a empatia surge por meio da
qualidade da atenção. Se a sua atenção é interrompida o tempo todo pela
necessidade de checar o seu celular, você não está de fato conquistando terreno
em relação aos sentimentos ou perspectivas dos outros.
p.70 - O nosso cérebro foi construído para a interação social
contínua, cuja complexidade é um dos principais fatores que levaram ao aumento
drástico da nossa inteligência como espécie. Em certo ponto, nos envolvermos
menos com os outros tem um efeito líquido negativo sobre o próprio cérebro e
atrofia o nosso músculo social.
p.70 - A nossa cultura tende a enfatizar o valor supremo do
indivíduo e dos direitos individuais, encorajando um egocentrismo ainda maior.
Encontramos cada vez mais pessoas que não conseguem imaginar que os outros
tenham uma perspectiva diferente, que não sejamos todos exatamente iguais
naquilo que desejamos ou pensamos.
p.71 - A empatia é, acima de tudo, um estado mental, uma
maneira diferente de se relacionar com os outros. O maior perigo que você
enfrenta é a sua suposição geral de que entende de fato as pessoas e que as
consegue julgar e categorizar com rapidez.
p.76 - Em geral, você notará que a jornada da vida se tornará mais fácil à medida que evitar conflitos e desentendimentos desnecessário.
p.746 - Quando
as pessoas resistirem à nossa vontade ou se voltarem contra nós, tentaremos
ponderar o que deu errado, descobrir como utilizar isso para nos educar mais
sobre a natureza humana e nos ensinar a lidar com os que são esquivos e
desagradáveis. Quando assumirmos riscos e fracassarmos, receberemos bem a
oportunidade de aprender com a experiência. Quando os relacionamentos
fracassarem, tentaremos ver o que havia de errado na dinâmica, o que nos fazia
falta e o que queremos do nosso próximo relacionamento. Não nos fecharemos em
casulos para nos proteger de mais sofrimentos, evitando essas experiências.
p.749 - Nós, seres humanos, nos tornamos escravos dos nossos medos e das nossas evasões
p.749 – [...] desde
o início da consciência humana, a nossa percepção da morte tem nos
aterrorizado. Esse terror tem moldado as nossas crenças, religiões,
instituições e muitos dos nossos comportamentos, de maneiras que não
conseguimos ver ou entender. Nós, seres humanos, nos tornamos escravos dos
nossos medos e das nossas evasões. Quando invertemos isso, nos tornando mais
conscientes da nossa mortalidade, sentimos o gosto da verdadeira liberdade. Não
sentimos mais a necessidade de restringir o que pensamos e fazemos, a fim de
tornar a vida previsível. Podemos ser mais audaciosos sem termos medo das
consequências. Podemos nos livrar de todas as ilusões e vícios que empregamos
para aliviar a nossa ansiedade. Podemos nos dedicar por completo ao nosso
trabalho, aos nossos relacionamentos, a todas as nossas ações. E, uma vez que
tenhamos sentido um pouco dessa liberdade, vamos querer explorar mais e
expandir as nossas possibilidades enquanto o tempo nos permitir.
RESUMO - AS LEIS DA NATUREZA
HUMANA
Somos animais sociais. As nossas
vidas dependem das relações que estabelecemos. Saber por que razão as pessoas
fazem o que fazem constitui uma ferramenta importante que temos ao nosso
dispor, sem a qual todos os outros talentos nunca irão muito longe.
· As
leis irão transformá-lo num observador mais calmo e mais estratégico das
pessoas, ajudando-o a libertar-se de toda a emoção, que o esgota sem
necessidade.
· As
leis irão transformá-lo num especialista em interpretação dos sinais que as
pessoas transmitem em permanência, concedendo-lhe uma capacidade muito maior de
avaliar o seu caráter.
· As
leis irão capacitá-lo para identificar e eliminar os indivíduos tóxicos que
inevitavelmente se cruzam no seu caminho.
· As
leis irão revelar-lhe os meios mais eficazes de motivar e influenciar pessoas.
· As
leis irão oferecer-lhe a capacidade de modificar os seus próprios padrões
negativos.
Em primeiro lugar, as leis funcionarão para transformá-lo
num observador mais calmo e estratégico das pessoas, ajudando-o a se libertar
de todo o drama emocional que drena a sua energia de forma desnecessária.
Em segundo lugar, as leis farão de você um mestre na
interpretação dos sinais que as pessoas emitem o tempo todo, dando a você uma
habilidade muito maior para lhes julgar o caráter.
Em terceiro lugar, as leis lhe darão o poder de enfrentar e
superar os tipos tóxicos que, de maneira inevitável, cruzam o nosso caminho e
tendem a causar danos emocionais de longo prazo.
Em quarto lugar, as leis vão lhe ensinar os verdadeiros
meios para motivar e influenciar pessoas, tornando o seu caminho na vida muito
mais fácil.
Em quinto lugar, as leis o farão perceber com que
profundidade as forças da natureza humana agem dentro de você, dando-lhe o
poder de alterar os seus próprios padrões negativos.
Em sexto lugar, as leis o transformarão num indivíduo com
mais empatia, que cria laços mais profundos e satisfatórios com quem está ao
seu redor.
Por fim, as leis vão alterar a maneira como você vê o seu
próprio potencial, fazendo-o tomar consciência de um eu ideal mais elevado
dentro de si que você vai querer trazer à tona.
2 – Lei do Narcisismo: transforme o amor-próprio em
empatia.
3 – Lei da Dramatização: veja para lá das máscaras das
pessoas.
4 – Lei do Comportamento Compulsivo: as pessoas tendem a
repetir os seus comportamentos.
5 – Lei da Cobiça: não esteja tão presente, porque as
pessoas querem o que não têm.
6 – Lei da Falta de Visão: veja para além do presente.
7 – Lei da Defensiva: atenue a resistência dos outros
confirmando a sua autoimagem.
8 – Lei da Autossabotagem: mude as circunstâncias mudando a
sua atitude.
9 – Lei da Repressão: enfrente o seu lado negro.
10 – Lei da Inveja: vigie um ego frágil.
11 – Lei da Grandiosidade: conheça os seus limites.
12 – Lei da Rigidez dos Géneros: ressintonize-se com os
seus lados masculino e feminino.
13 – Lei da Futilidade: avance com uma noção de propósito.
14 – Lei do Conformismo: resista à força gravítica
descendente do grupo.
15 – Lei da Volubilidade: nunca tome a liderança como
certa, sendo um processo contínuo.
16 – Lei da Agressão: detete a hostilidade sob uma fachada
amistosa.
17 – Lei da Miopia Geracional: aproveite o momento
histórico.
18 - Lei da Negação da Morte: medite na mortalidade do ser
humano.
1. A
lei da irracionalidade
- Domine o seu
lado emocional.
Você gosta de se
imaginar no controle do seu destino, planejando de forma consciente o curso da
sua vida da melhor maneira que consegue. No entanto, você não tem compreensão,
na maior parte, do quão profundamente as suas emoções o dominam. Elas o fazem
se voltar para ideias que lhe confortam o ego, procurando por pistas que confirmem
o que já quer acreditar. Suas emoções fazem que você veja o que quer ver,
dependendo do seu estado de espírito, e essa desconexão com a realidade é a
fonte das decisões ruins e dos padrões negativos que o assombram. A
racionalidade é a habilidade de neutralizar esses efeitos emocionais, pensar
antes de reagir, abrir a mente para o que está acontecendo de fato, não para o
que você está sentindo. Não é algo que surge espontaneamente, mas um poder que
precisamos cultivar; ao fazê-lo, atingimos o nosso potencial mais elevado.
2. A
lei do narcisismo
- Transforme a
autoestima em empatia.
Todos possuímos,
por natureza, a ferramenta mais impressionante para nos conectarmos com os
indivíduos e adquirir o poder social – a empatia. Quando cultivada e utilizada
da maneira adequada, esta nos permite entender os ânimos e a mente dos outros,
dando-nos o poder de prever as ações das pessoas e de lhes baixar a resistência
pouco a pouco. Esse instrumento, porém, é embotado pelo nosso próprio
egocentrismo habitual. Todos somos narcisistas, alguns mais a fundo na escala
do que outros. A nossa missão na vida é aceitar esse amor-próprio e aprender a
voltar a nossa sensibilidade para fora, para os outros, em vez de para dentro.
Devemos reconhecer, ao mesmo tempo, os narcisistas tóxicos entre nós, antes que
nos vejamos enredados nos dramas que criam e envenenados pela inveja que sentem
3. A
lei da dramatização
- Veja por trás
das máscaras das pessoas.
As pessoas
tendem a usar a máscara que as mostra da melhor maneira possível – humildes,
autoconfiantes, aplicadas. Elas dizem as coisas certas, sorriem, e parecem
interessadas nas nossas ideias. Aprendem a esconder as inseguranças e a inveja.
Se tomamos essas aparências como realidade, nunca conheceremos os seus
verdadeiros sentimentos, e, de vez em quando, seremos pegos de surpresa se, de
súbito, demonstrarem resistência, hostilidade e ações manipuladoras.
Felizmente, a máscara tem rachaduras. Os indivíduos deixam vazar os seus
sentimentos e desejos inconscientes o tempo todo, em sinais não verbais que não
conseguem controlar por completo – expressões faciais, inflexões vocais, tensão
no corpo e gestos nervosos. Você precisa dominar essa linguagem,
transformando-se num leitor habilidoso de homens e mulheres. Armado com esse
conhecimento, vai conseguir tomar medidas defensivas. Por outro lado, como é
pelas aparências que os outros vão julgá-lo, você precisa aprender como
apresentar a melhor fachada e desempenhar o seu papel com eficiência máxima.
4. A
lei do comportamento compulsivo
- Determina a
força de caráter das pessoas.
Ao escolher
pessoas com quem trabalhar e se associar, não se mesmerize pela reputação delas
ou se deixe levar pela imagem superficial que tentam projetar. Em vez disso,
treine-se para olhar mais a fundo dentro de cada uma e lhes ver o caráter. O
caráter dos indivíduos é formado nos anos iniciais e por seus hábitos diários.
É o que os compele a repetir certas ações na vida e a cair em padrões
negativos. Observe com atenção esses padrões e se lembre de que o ser humano
nunca faz algo apenas uma vez. É inevitável que repita o seu comportamento.
Meça a força relativa do caráter das pessoas por como elas lidam com
adversidades, pela habilidade com que se adaptam e trabalham com os outros,
pela paciência e capacidade de aprender. Gravite sempre em torno dos que emitem
sinais de força, e evite os muitos tipos tóxicos existentes. Conheça bem o seu
próprio caráter de forma a romper os seus padrões compulsivos e tomar o
controle sobre o seu destino.
5. A
lei da cobiça
- Torne-se um
objeto inatingível de desejo.
A ausência e a
presença têm sobre nós efeitos primitivos. A presença excessiva sufoca; um grau
de ausência desperta o nosso interesse. Somos marcados pelo desejo constante de
possuir o que não temos – o objeto projetado pelas nossas fantasias. Aprenda a
criar algum mistério ao seu redor, a utilizar a ausência estratégica para fazer
as pessoas desejarem o seu retorno, quererem possuí-lo. Provoque-as com aquilo
de que mais sentem falta na vida, o que estão proibidas de ter, e elas vão
enlouquecer de desejo. A grama é sempre mais verde do outro lado da cerca.
Supere essa fraqueza em si mesmo ao aceitar as suas circunstâncias, o seu
destino.
6. A
lei da miopia
- Eleve a sua
perspectiva.
Faz parte do
lado animal da sua natureza se impressionar tanto com o que vê e ouve no
presente – as notícias e tendências mais recentes, as opiniões e ações das
pessoas ao seu redor, seja o que for que pareça mais dramático. Isso é o que o
faz se deixar enganar por esquemas sedutores que prometem resultados rápidos e
dinheiro fácil. É isso também que o faz reagir de maneira exagerada às
circunstâncias atuais, tornando-se excessivamente eufórico ou apavorado à
medida que os acontecimentos se voltam numa direção ou em outra. Aprenda a
medir as pessoas pela estreiteza ou amplitude da visão delas; evite se envolver
com aqueles que não conseguem enxergar as consequências das suas ações, que
demonstram sempre uma atitude reativa. Eles o contagiarão com essa energia.
Mantenha os olhos nas tendências mais fortes que governam os acontecimentos, naquilo
que não é visível de imediato. Nunca perca de vista as suas metas de longo
prazo. Com uma perspectiva elevada, terá paciência e lucidez para atingir
qualquer objetivo.
7. A
lei da atitude defensiva
- Diminua a
resistência das pessoas confirmando a opinião que elas têm de si mesmas.
A vida é difícil
e os seres humanos são competitivos. É claro que precisamos cuidar dos nossos
próprios interesses. Também queremos sentir que somos independentes, que
fazemos o que queremos. É por isso que quando outras pessoas tentam nos
persuadir ou mudar o jeito que somos, nos tornamos defensivos e resistentes.
Ceder desafia a nossa necessidade de nos sentirmos autônomos. Por essa razão,
para conseguir que os outros deixem a posição defensiva, você precisa sempre
fazer parecer que o que eles estão fazendo é da vontade deles. Criar um
sentimento de cordialidade mútua ajuda a suavizar a resistência dos indivíduos
e faz que eles queiram ajudar. Nunca ataque os outros por suas crenças ou os
faça sentir inseguros sobre a própria inteligência ou bondade – isso só os
deixará ainda mais na defensiva e tornará a sua tarefa impossível. Faça-os
sentir que, ao fazer o que você quer, eles estarão sendo nobres e altruístas –
a isca definitiva. Aprenda a domar a sua própria natureza teimosa e liberte a
mente das suas posições defensivas e fechadas, desatando os seus poderes
criativos
8. A
lei da autossabotagem
- Mude suas
circunstâncias mudando de atitude.
Cada um de nós
tem um modo particular de observar o mundo, de interpretar os acontecimentos e
as ações dos indivíduos em redor. Essa é a nossa atitude, que determina muito
do que nos acontece na vida. Se a nossa atitude é, em essência, temerosa, vemos
o lado negativo em cada circunstância. Impedimo-nos de correr riscos. Culpamos
outros por erros e deixamos de aprender com eles. Se nos sentimos hostis e
desconfiados, fazemos as pessoas sentirem essas mesmas emoções na nossa
presença. Sabotamos a nossa carreira e os nossos relacionamentos ao criar, de
modo inconsciente, as circunstâncias que mais tememos. A atitude humana, porém,
é maleável. Ao tornar a nossa atitude mais positiva, aberta e tolerante em
relação aos demais, conseguiremos incitar uma dinâmica diferente – seremos
capazes de aprender a partir da adversidade, criar oportunidades do nada e
atrair as pessoas para nós. Devemos explorar os limites da nossa força de
vontade e ver quão longe ela nos leva.
9. A
lei da repressão
- Confronte o
seu lado sombrio.
Os indivíduos
raramente são o que aparentam ser. É inevitável que, por baixo do exterior
educado e afável, exista um lado nebuloso e sombrio formado por inseguranças e
pelos impulsos agressivos e egoístas que eles reprimem e ocultam, com cuidado,
da percepção pública. Esse lado sombrio se revela em comportamentos que podem
espantá-lo e prejudicá-lo. Aprenda a reconhecer os sinais da Sombra antes que
se tornem tóxicos. Veja os traços evidentes das pessoas – tenacidade, virtude
etc. – como disfarces da qualidade contrária. Você deve tomar consciência do
seu próprio lado sombrio. Ao ter ciência dele, conseguirá controlar e canalizar
as energias criativas que se escondem no seu inconsciente. Ao integrar o lado
sombrio à sua personalidade, você será um ser humano mais completo e irradiará
uma autenticidade que atrairá os outros a você.
10. A
lei da inveja
- Cuidado com o
ego frágil.
Nós, seres
humanos, somos naturalmente compelidos a nos compararmos uns com os outros.
Estamos sempre avaliando as circunstâncias das pessoas, os níveis de respeito e
atenção que recebem, e notando quaisquer diferenças entre o que temos e o que
elas têm. Para alguns, essa necessidade de comparar serve como um encorajamento
para se destacarem por meio do trabalho. Para outros, pode se transformar numa
inveja profunda – sentimentos de inferioridade e frustração que levam a ataques
dissimulados e sabotagem. Ninguém admite que age por inveja. Você precisa
reconhecer os sinais iniciais de alerta: elogios e ofertas de amizade que soam
efusivos ou desproporcionais; provocações sutis disfarçadas de humor
bem-intencionado; desconforto aparente com o seu sucesso. É mais provável que
surja entre amigos ou entre colegas da mesma profissão. Aprenda a rechaçar a
inveja ao desviar a atenção para longe de você. Desenvolva o seu senso de
amor-próprio a partir de padrões internos, e não de comparações incessantes.
11. A
lei da grandiosidade
- Conheça os
seus limites.
Nós, seres
humanos, sentimos profunda necessidade de ter uma opinião positiva de nós
mesmos. Se esse julgamento sobre nossa bondade, talento e maestria divergir
demais da realidade, nos tornaremos pedantes. Imaginaremos a nossa
superioridade. Muitas vezes, uma pequena dose de êxito erguerá a nossa
grandiosidade natural a níveis ainda mais perigosos. A nossa auto opinião
elevada terá sido agora confirmada pelos acontecimentos. Esquecemos o papel que
a sorte ou a colaboração dos outros desempenhou no nosso triunfo. Imaginamos
que temos o toque de Midas. Perdendo o contato com o que é real, tomamos
decisões irracionais. É por isso que o nosso sucesso muitas vezes não dura. Procure
por sinais da grandiosidade elevada em si mesmo e nos demais – a certeza
prepotente de que os seus planos terão um resultado positivo; uma sensibilidade
excessiva a críticas; o desdém por qualquer forma de autoridade. Neutralize a
influência da grandiosidade ao manter uma avaliação realista de si mesmo e das
suas limitações. Atrele todos os sentimentos de brilhantismo ao seu trabalho,
às suas conquistas e às suas contribuições à sociedade
12. A
lei da rigidez de gêneros
- Reconecte-se
com o masculino ou o feminino dentro de você.
Todos nós temos
qualidades masculinas e femininas – parte disso é genético, e parte vem da
influência profunda do genitor do sexo oposto. Entretanto, na necessidade de
apresentar uma identidade consistente à sociedade, tendemos a reprimir essas
qualidades, nos identificando de maneira excessiva com o papel masculino ou
feminino que é esperado de nós. E pagamos o preço por isso. Perdemos dimensões
valiosas do nosso caráter. O nosso raciocínio e a nossa maneira de agir se
tornam rígidos. Os nossos relacionamentos com membros do sexo oposto sofrem à
medida que projetamos neles as nossas fantasias e hostilidades. Você deve tomar
consciência desses traços masculinos ou femininos perdidos e se reconectar
gradualmente a eles, libertando, no processo, os seus poderes criativos. Você
se tornará mais fluido no seu raciocínio. Ao expor os subtons masculinos ou
femininos do seu caráter, fascinará as pessoas ao ser autêntico. Não interprete
o papel esperado do gênero; em vez disso, crie um que se adéque a você.
13. A
lei da falta de perspectiva
- Avance com um
senso de propósito.
Diferentemente
dos demais animais, cujos instintos os guiam para longe dos perigos, os seres
humanos têm que confiar nas suas decisões conscientes. Fazemos o melhor que podemos
no que diz respeito à nossa trajetória profissional e aos obstáculos
inevitáveis que enfrentamos na vida. No entanto, num canto da nossa mente,
percebemos uma falta generalizada de direcionamento, como se fossemos levados
para um lado e para o outro pelos nossos ânimos e pelas opiniões dos outros.
Como fomos parar neste emprego, neste lugar? Esse movimento à deriva pode levar
a becos sem saída. O jeito de evitar essa sorte é desenvolver um senso de
propósito, descobrindo a nossa vocação na vida, e utilizando esse conhecimento
para guiar as nossas decisões. Passamos a nos conhecer melhor – os nossos
gostos e inclinações. Confiamos em nós mesmos, sabendo quais batalhas e desvios
evitar. Até os nossos momentos de dúvida, até os nossos fracassos têm um propósito:
o de nos fortalecer. Com essa energia e direcionamento, as nossas ações têm uma
força irrefreável.
14. A
lei do conformismo
- Resista à
pressão descendente do grupo.
Há uma faceta do
nosso caráter da qual não costumamos ter consciência – a nossa personalidade
social, aquela pessoa diferente em que nos transformamos quando atuamos em
grupos. Em ambientes assim, imitamos inconscientemente o que os outros dizem e
fazem. Pensamos de modo diferente, mais preocupados em nos encaixar e acreditar
nas mesmas coisas em que as pessoas acreditam. Sentimos emoções diferentes,
contagiados pelos ânimos do grupo. Somos mais propensos a assumir riscos, a
agir de maneira irracional, pois todos o fazem. Essa personalidade social pode
vir a dominar quem somos. Ao dar tanta atenção assim aos demais e adequar o
nosso comportamento ao deles, perdemos aos poucos um senso de singularidade e a
capacidade de pensar por nós mesmos. A única solução é desenvolver a
autoconsciência e um entendimento superior das mudanças que podem nos ocorrer
quando estamos dentro de grupos. Com essa inteligência, podemos nos tornar
excelentes atores sociais capazes de nos encaixarmos exteriormente e de
cooperarmos com outros num nível elevado, retendo, ao mesmo tempo, a nossa
independência e racionalidade.
15. A
lei da inconsistência
- Faça-os
quererem segui-lo.
Embora os
estilos de liderança mudem com os tempos, uma constante permanece: os
indivíduos são sempre ambivalentes quanto àqueles no poder. Eles querem ser
guiados, mas também se sentir livres; querem ser protegidos e desfrutar da
prosperidade sem fazer sacrifícios; idolatram o rei ao mesmo tempo que querem
matá-lo. Na posição de líder de um grupo, as pessoas estão sempre preparadas
para se voltar contra você no instante em que parecer fraco ou enfrentar um
empecilho. Não sucumba aos preconceitos da época, imaginando que o que você
precisa fazer para lhes conquistar a lealdade é dar a impressão de ser igual a
elas, ou um amigo; duvidarão da sua força, desconfiarão dos seus motivos e
responderão com descaso camuflado. A autoridade é a arte delicada de criar a
aparência do poder, da legitimidade e da justiça, e, ao mesmo tempo, fazer os
indivíduos se identificarem com você como um líder que está a serviço deles. Se
quiser liderar, precisa dominar essa arte desde cedo na vida. Uma vez que tenha
conquistado a confiança dos outros, eles se colocarão ao seu lado e o aceitarão
como líder, não importando as más circunstâncias
16. A
lei da agressão
- Veja a
hostilidade por trás da fachada amigável.
Na superfície,
as pessoas ao seu redor parecem polidas e civilizadas. Contudo, por baixo da
máscara, é inevitável que todas lidem com frustrações. Elas têm a necessidade
de influenciar os outros e obter o poder sobre as circunstâncias. Vendo as suas
iniciativas bloqueadas, com frequência tentam se afirmar de maneiras manipuladoras
que o pegam de surpresa. Além disso, há aqueles cuja necessidade de poder e
cuja impaciência para obtê-lo são maiores do que as dos outros. Eles se tornam
bem agressivos, intimidando os demais para conseguir o que querem, sendo
implacáveis e se dispondo a fazer quase de tudo. Você precisa se transformar
num excelente observador dos desejos agressivos insatisfeitos dos indivíduos,
prestando atenção especial aos passivo-agressivos e aos agressores passivos em
nosso meio. É preciso reconhecer os sinais – os padrões de comportamento do
passado, a necessidade obsessiva de controlar tudo no ambiente – que indicam os
tipos perigosos. Eles dependem de torná-lo emocional – com medo, raiva – e
incapaz de pensar direito. Não lhes ceda esse poder. No que diz respeito à sua
própria energia agressiva, aprenda a domá-la e canalizá-la para propósitos
produtivos, afirmando-se, atacando os problemas com energia persistente,
realizando grandes ambições.
17. A
lei da miopia geracional
- Aproveite o
momento histórico.
O leitor nasceu
numa geração que define quem você é mais do que imagina. A sua geração quer se
separar da anterior e estabelecer um novo tom para o mundo. No processo, forma
certos gostos, valores e maneiras de pensar que você, como indivíduo,
internaliza. Ao envelhecer, esses valores e ideias geracionais tendem a fechar
a sua mente para outros pontos de vista, restringindo-a. A sua tarefa é
entender da maneira mais profunda possível essa influência poderosa sobre quem
você é e como vê o mundo. Conhecendo em profundidade o espírito da sua geração
e dos tempos em que vive, você será mais capaz de explorar o zeitgeist. Você
será aquele a prever e estabelecer as tendências pelas quais a sua geração
anseia. Você libertará a sua mente das restrições mentais colocadas sobre si
pela sua geração, e se aproximará mais do indivíduo que se imagina ser, com
todo o poder que a liberdade lhe oferecerá.
18. A
lei da negação da morte
- Medite sobre a
nossa mortalidade comum.
A maioria de nós
passa o tempo todo evitando pensar na morte. Em vez disso, deveríamos ter a
inevitabilidade da morte sempre em mente. Entender a brevidade da vida nos
enche com um senso de propósito e urgência para realizar os nossos objetivos.
Ao nos treinarmos para confrontar e aceitar essa realidade, teremos mais
facilidade para lidar com os obstáculos, separações e crises inevitáveis. Isso
nos dará um senso de proporção, daquilo que importa de fato na nossa curta
existência. O ser humano procura o tempo todo por maneiras de se separar dos
outros e se sentir superior. Em vez disso, devemos ver a mortalidade em todos,
e enxergar o modo como ela nos iguala e conecta. Ao nos tornarmos mais cientes
da nossa mortalidade, intensificaremos a nossa experiência de cada aspecto da
vida.
ALMA x ATITUDE
Por fim, pense no
conceito moderno de atitude em termos do conceito antigo de alma, encontrado em quase todas as culturas
indígenas e civilizações pré-modernas. Originalmente, ele se referia a forças espirituais externas que permeiam
o universo e que estão contidas no ser humano individual na forma da alma. A
alma não é a mente ou o corpo, mas o espírito geral que encarnamos, a nossa
maneira de vivenciar o mundo. É o que torna uma pessoa um indivíduo, e o seu
conceito estava relacionado às primeiras ideias de personalidade, sob o qual a
alma de alguém poderia ter profundidades. Alguns possuíam um grau maior dessa
força espiritual, tinham mais alma; outros tinham uma personalidade que carecia
dessa força e que era um pouco desalmada.
Isso tem grande
relevância em relação à nossa ideia de atitude. Na nossa concepção moderna da
alma, substituímos a força espiritual externa pela própria vida, ou pelo que
descrevemos como força vital. A vida é inerentemente complexa e imprevisível, com poderes
muito além de tudo que seriamos capazes de compreender ou controlar por
completo. Essa força vital se reflete na natureza e na sociedade humana pela
diversidade impressionante que encontramos em ambos os campos.
Por um lado, há aqueles cujo objetivo na vida é inibir e controlar essa força vital, levando-os a estratégias autodestrutivas; precisam limitar os pensamentos e se manter fiéis a ideias que já perderam a relevância. Têm de limitar o que vivenciam. Tudo se refere a eles e às suas necessidades mesquinhas e problemas pessoais. Muitas vezes se tornam obcecados com uma meta específica que lhes domina todos os pensamentos — como obter dinheiro ou atenção. Tudo isso os deixa mortos por dentro à medida que se fecham à riqueza da vida e à variedade da experiência humana. Por esse caminho, dirigem-se para o aspecto desalmado, uma carência interna de profundidade e flexibilidade.
A sua meta deve ser se
mover sempre na direção oposta. Descubra a curiosidade que tinha na infância.
Tudo e todos serão uma fonte de fascinação para você. Mantenha-se aprendendo,
expandindo de forma contínua o que você sabe e vivência. Sinta-se generoso e
tolerante em relação às pessoas, mesmo aos seus inimigos e àqueles que estão
aprisionados na condição desalmada. Não se escravize à amargura ou rancor. Em
vez de culpar os outros ou as circunstâncias, veja o papel que a sua própria
atitude e suas ações desempenharam em qualquer fracasso. Adapte-se às
circunstâncias ao contrário de se queixar sobre elas. Aceite e acolha a
incerteza e o inesperado como qualidades valiosas. Dessa maneira, a sua alma se
expandirá para os contornos da própria vida e se preencherá com essa força vital.
Aprenda a avaliar
aqueles com quem lida pela profundidade da alma deles, e, se possível,
associe-se o mais que conseguir aos da variedade expansiva.
E por isso
que as mesmas circunstâncias ou acontecimentos externos não afetam duas
pessoas do mesmo jeito; mesmo em ambientes perfeitamente semelhantes, cada um
vive num mundo próprio [...].
O mundo em que um homem vive
se molda muito pela maneira como ele o observa, e assim se mostra diferente
para homens diferentes; para um é árido, tedioso e superficial; para outro é
rico, interessante e cheio de significado. Ao ouvir sobre eventos interessantes
que ocorreram no decorrer da experiência de um homem, muitas pessoas desejarão
que algo semelhante lhes aconteça na vida também, esquecendo por completo que
deveriam invejar, na verdade, a aptidão mental que emprestou a esses eventos a
significância que possuem quando os descreve.
- Arthur Schopenhauer
p.298 - 299]
p. 583 - 585 - Entenda: embora não existam mais reis e rainhas com tanto poder em nosso meio, hoje, mais do que nunca, o ser humano se comporta como se fosse um membro da realeza. Nós nos sentimos merecedores de respeito no trabalho, não importando o quão pouco tenhamos realizado. Imaginamos que as pessoas deveriam levar as nossas ideias e projetos a sério, não importando quão pouca ponderação investimos neles ou quão pobre seja o nosso histórico. Esperamos receber ajuda na nossa carreira, porque somos sinceros e temos as melhores intenções. Parte dessa forma moderna de presunção talvez resulte de termos sido mimados demais pelos pais, que nos convenceram de que tudo que fazíamos valia ouro. Outra parte pode ser a consequência da tecnologia, que domina tanto a nossa vida e que nos mima também. Ela nos dá poderes imensos sem que tenhamos que exercer qualquer esforço real. Passamos a tomar esses poderes como garantidos e acreditar que tudo na vida será bem fácil e rápido. Qualquer que seja o motivo, esse fenômeno nos contamina a todos, e devemos encarar esse senso de merecimento como uma maldição. Ele nos leva a ignorar a realidade – as pessoas não têm nenhuma razão inerente para nos oferecer confiança ou respeito só porque somos quem somos. Isso nos torna preguiçosos, satisfeitos com a mera concepção ou o primeiro esboço do nosso trabalho. Por que temos de melhorar o nosso desempenho ou nos esforçar para nos aprimorarmos quando acreditamos que já somos tão fantásticos? Nós nos tornamos insensíveis e absortos em nós mesmos. Ao imaginar que os outros nos devem a sua confiança e respeito, nós lhes negamos a força de vontade, a habilidade de julgarem por si mesmos, e isso os enfurece. Talvez não percebamos, mas inspiramos o ressentimento dos outros. E se nos tornamos líderes ou sublíderes, o efeito dessa maldição só piora. De maneira inconsciente, tendemos a nos acomodar e esperar que as pessoas venham até nós com lealdade e respeito pela posição que ocupamos. Na defensiva, ficamos irritados se as nossas ideias são desafiadas, se a nossa inteligência e sabedoria são questionadas, até nos assuntos mais ínfimos. Esperamos certos benefícios e privilégios e, se houver sacrifícios a serem feitos, de algum modo sentimos que deveríamos ser eximidos. Se cometermos um erro, é sempre culpa do outro, ou das circunstâncias, ou de algum demônio interno passageiro fora do nosso controle. Nunca é responsabilidade nossa. Não nos damos conta de como isso afeta aqueles que lideramos, pois notamos apenas os sorrisos e os acenos de aprovação dos indivíduos a tudo que dizemos. Contudo, eles nos veem muito bem. Sentem o senso de merecimento que projetamos, e com o tempo isso lhes diminui o respeito e os desconectam da nossa influência. Num determinado ponto crítico, eles se voltarão contra nós de forma tão abrupta que ficaremos chocados. [...], devemos perceber que estamos, na verdade, numa posição vulnerável, e precisamos lutar para adotar a atitude oposta: não esperar nada das pessoas em redor, daqueles a quem lideramos. Não se mantenha na defensiva nem se acomode; seja completamente ativo – tudo que obtiver dos outros, em especial o respeito, deve ser merecido. É necessário que o ser humano se prove o tempo todo, demonstrando que a sua preocupação primária não é consigo e com os próprios egos sensíveis, mas com o bem do grupo. Nós precisamos ser responsáveis e empáticos de verdade em relação aos ânimos das pessoas, mas com limites – temos de ser severos e impiedosos com os que promovem os seus próprios interesses. Se praticarmos o que pregamos, trabalhando com mais afinco do que os demais, sacrificando os nossos interesses pessoais, se necessário, e respondendo por todos os erros, a nossa expectativa será de que os membros do grupo sigam o nosso exemplo e se provem também. Com essa atitude, notaremos um efeito bem diferente. As pessoas se abrirão à nossa influência; quando nos movermos na direção delas, elas se moverão na nossa e vão querer conquistar a nossa aprovação e respeito. Com essa conexão emocional, seremos perdoados com mais facilidade pelos erros cometidos. A energia do grupo não será desperdiçada em brigas incessantes e conflitos de egos, mas direcionada para o cumprimento de metas e a realização de grandes iniciativas. Ao obter esses resultados, formaremos uma aura de autoridade e poder que só crescerá com o tempo. O que dizemos e fazemos parecerá carregar um peso maior, e a nossa reputação nos precederá.
O GRUPO DA
REALIDADE
Quando um grupo
de pessoas fracassa numa iniciativa, costumamos ver a seguinte dinâmica se
desenrolar: a primeira reação é examinar os atores envolvidos e determinar os
culpados. Talvez tenha sido o líder que, com a sua ambição excessiva, levou o
grupo ao fracasso, ou o assistente incompetente, ou o adversário muito astuto.
Talvez um pouco de má sorte estivesse envolvida também. O líder ou o assistente
podem ser despedidos e uma nova equipe introduzida. A liderança aprende algumas
lições a partir dessa experiência, e estas são compartilhadas. Todos no grupo
se sentem satisfeitos e prontos para ir adiante. Então, alguns anos mais tarde,
quase o mesmo problema e o mesmo tipo de fracasso reincide, e as mesmas
soluções desgastadas são recicladas. O motivo para esse padrão comum é simples:
a culpa, na verdade, está na dinâmica disfuncional do grupo, que tende a
produzir assistentes incompetentes e líderes grandiosos. E, a menos que isso
seja consertado, os problemas continuarão a se repetir com rostos diferentes. Numa
cultura disfuncional, os membros muitas vezes se confundem a respeito dos
papéis que desempenham e do direcionamento geral do grupo. Em meio a essa
confusão, as pessoas começam a pensar mais nos seus próprios planos e
interesses, e formam facções. Mais preocupadas com o próprio status do que com
a saúde do grupo, o ego delas se torna irritável, e elas se mostram obcecadas
com quem está ganhando mais. Nessa atmosfera contenciosa, as maçãs ruins – os
agitadores, os homens e mulheres de baixo caráter – encontram diversas maneiras
de incitar problemas e se promoverem. Aqueles que são bons de conversa e jogos
políticos, mas em não muito mais que isso, prosperam, ascendem ao topo e se
tornam assistentes do líder. A mediocridade é preferida e recompensada. O líder
se vê arrastado para baixo por toda a dissensão e competição internas.
Sentindo-se vulnerável, cerca-se de cortesãos que lhe dizem o que ele quer
ouvir. Dentro desse casulo da corte, concebe planos malfeitos e grandiosos, que
são encorajados pelos cortesãos covardes. Despedir o líder ou os seus
assistentes não vai mudar nada. Os próximos vão apenas se ver contaminados e
transformados pela cultura disfuncional. O que precisamos fazer para evitar
essa armadilha é alterar a nossa perspectiva: em vez de nos concentrarmos de
imediato nos indivíduos e no drama da ação fracassada, devemos focar a dinâmica
geral do grupo. Conserte a dinâmica, crie uma cultura produtiva, e assim não
apenas evitará todos os males, mas desencadeará uma pressão ascendente muito diferente
dentro do grupo. O que cria uma dinâmica funcional e saudável é a habilidade do
grupo de manter um relacionamento firme com a realidade. A realidade para um
grupo é a seguinte: ele existe a fim de produzir realizações, criar algo e
solucionar problemas. Tem certos recursos com os quais pode contar – o trabalho
e as capacidades de cada membro, as finanças. Atua num ambiente específico que
é quase sempre bastante competitivo e em constante mutação. O grupo saudável
coloca a ênfase principal no trabalho em si, em tirar o proveito máximo dos
recursos e em se adaptar a todas as mudanças inevitáveis. Sem perder tempo com
jogos políticos infindáveis, consegue realizar dez vezes mais do que um grupo
disfuncional. Extrai o que há de melhor na natureza humana – a empatia das
pessoas, a habilidade destas de trabalhar com outros num nível elevado.
Permanece sendo o ideal para todos nós. Chamemos esse ideal de o grupo da
realidade. Com certeza, o verdadeiro grupo da realidade é uma ocorrência rara
na história – até certo ponto, nós o vimos em ação com os famosos batalhões de
Napoleão Bonaparte, ou nos primeiros anos da IBM sob o comando de Thomas
Watson, ou no gabinete inicial formado por Franklin Roosevelt, ou na equipe de
filmagem que trabalhou por décadas para o grande diretor John Ford, ou no time
de basquete norte-americano Chicago Bulls sob a liderança do técnico Phil
Jackson. Desses exemplos, e outros, podemos aprender algumas lições valiosas
sobre os componentes do grupo da realidade e sobre como ele pode ser moldado
pelos líderes. A seguir estão cinco estratégias essenciais para conseguir isso,
todas as quais devem ser colocadas em prática. Tenha em mente que, se você
herdar uma cultura firmemente estabelecida e disfuncional, a sua tarefa será
mais difícil e exigirá mais tempo. Você precisa ter determinação para efetuar
as mudanças que deseja e ter paciência, tendo cuidado para não deixar a cultura
assimilá-lo aos poucos. Pense nisso como uma guerra, em que o inimigo não são
os indivíduos, mas a dinâmica disfuncional do grupo. Infunda um senso coletivo
de propósito. Aquela força social que compele as pessoas a quererem participar
e se encaixar é algo que se deve capturar e canalizar para um propósito mais
elevado. Você conseguirá fazer isso estabelecendo um ideal – o seu grupo deve
ter um objetivo definido, uma missão positiva que une os membros, que pode ser
criar um produto que seja superior e único e que torne a vida mais fácil e
traga prazer; ou melhorar as condições dos necessitados; ou resolver algum problema
aparentemente insolúvel. Essa é a realidade derradeira do grupo, o motivo pelo
qual ele foi formado em primeiro lugar. Não é vago ou implícito, mas declarado
e divulgado com clareza. Não importa qual seja o tipo de trabalho, você deve
enfatizar a excelência e criar algo da mais alta qualidade. Lucrar ou ter
sucesso deveria ser um resultado natural desse ideal, e não a meta em si. Para
fazer isso funcionar, o grupo deve praticar o que você prega. Quaisquer sinais
de hipocrisia ou discrepância notável entre o ideal e a realidade destruirão os
seus esforços. Estabeleça um histórico de resultados que reflita o ideal do
grupo. Este tenderá a perder a conexão com o propósito original, em especial
quando obtiver algum sucesso. Continue a lembrá-lo da missão, adaptando-a se
necessário, mas nunca se desviando do seu âmago. Muitas vezes gostamos de
reduzir o comportamento das pessoas a motivações ordinárias – ganância, egoísmo
e o desejo de atenção. Com certeza todos temos um lado ordinário. Entretanto,
também possuímos uma faceta mais nobre e elevada que se sente frustrada com
frequência e que não consegue se expressar no mundo impiedoso da atualidade.
Fazer os indivíduos se sentirem parte integral de um grupo que está criando
algo importante atende a uma necessidade humana profunda que raramente é
satisfeita. Uma vez que os membros tenham experimentado essa sensação, eles
serão motivados a manter a dinâmica saudável viva e como algo vital. Com o
espírito de união relativamente elevado, o grupo policiará a si mesmo. Quem é
mesquinho e só se preocupa com o próprio ego se destacará e será isolado. Com
clareza sobre o que o grupo representa e o papel que deve desempenhar, é menos
provável que os membros formem facções. Tudo se torna mais fácil e tranquilo se
você incutir esse propósito coletivo. Reúna a equipe certa de assistentes. Como
líder de um grupo da realidade, você precisa ter a habilidade de se concentrar
no panorama geral e nas principais metas. Você tem um estoque limitado de
energia mental, e deve orientá-la com sabedoria. O maior obstáculo a isso é o
medo de delegar a autoridade. Se sucumbir ao micro gerenciamento, a sua mente
será obscurecida por todos os detalhes que tentará controlar e pelas batalhas
entre os cortesãos. A sua própria confusão então se infiltrará no grupo,
arruinando o efeito da primeira estratégia. O que você precisa fazer desde o
princípio é cultivar uma equipe de assistentes, incutidos com o seu espírito e
com o senso coletivo de propósito, em quem pode confiar para gerenciar a
execução das ideias. Para conseguir isso, tenha os padrões certos – não baseie
a sua seleção no charme das pessoas, e nunca contrate amigos. Você quer o
indivíduo mais competente para a função. Considere bem o caráter. Alguns
conseguem ser brilhantes, mas no fim as suas personalidades e egos venenosos os
levam a drenar o espírito do grupo. Selecione para essa equipe aqueles que
tenham as habilidades que você não tem, cada indivíduo com as suas capacidades
específicas. Eles devem saber o papel que vão desempenhar. Também é bom que
essa equipe de assistentes seja diversa em temperamento, histórico e ideias.
Devem demonstrar disposição para dizer o que pensam e tomar iniciativa, tudo
dentro da estrutura do propósito do grupo. Podem até desafiar algumas regras
que pareçam antiquadas. Sentir que fazem parte de um grupo, mas que também são
capazes de empregar a própria criatividade para realizar tarefas, despertará o
melhor neles, e esse espírito se espalhará. Para essa equipe de assistentes, e
para o grupo como um todo, certifique-se de que os membros sejam tratados de
maneira mais ou menos igual – ninguém dever ter privilégios especiais;
distribua recompensas e punições de modo justo e imparcial. Se alguns
indivíduos específicos não estiverem à altura do ideal, livre-se deles. Se você
então trouxer novos assistentes, eles naturalmente serão absorvidos pela
dinâmica saudável. Você deve também liderar pelo exemplo. Se houver sacrifícios
a serem feitos, ofereça tanto quanto qualquer outro membro. Ao fazer isso,
tornará mais difícil para as pessoas sentirem inveja ou ressentimentos, que
poderiam semear divisões e torná-las políticas. Deixe as informações e as
ideias fluírem com liberdade. À medida que o grupo evoluir, o maior perigo para
você é a lenta formação de uma bolha ao seu redor. Os assistentes, tentando
diminuir o seu fardo, podem acabar isolando-o do que está acontecendo em todo o
grupo e filtrar as informações que lhe fornecem. Sem perceber, eles lhe dirão o
que acreditam que o agradará e conterão o ruído que é importante de se ouvir. A
sua perspectiva da realidade aos poucos se tornará distorcida e as suas
decisões refletirão esse fato. Sem se sobrecarregar com detalhes, você deve
estabelecer uma dinâmica bem diferente. Considere a comunicação aberta de
ideias e informações – sobre rivais, sobre o que está acontecendo nas ruas ou
entre o seu público –, a essência vital do grupo. Esse foi o segredo do sucesso
de Napoleão Bonaparte no campo de batalha. Ele revisava pessoalmente os
relatórios concisos que lhe chegavam por intermédio de seus marechais de campo,
tenentes e outros de toda a cadeia de comando, inclusive os soldados da
infantaria. Isso lhe dava várias linhas de perspectiva quanto ao desempenho do
exército e das ações do inimigo. Queria o máximo de informações não filtradas
quanto possível antes de se decidir por uma estratégia. Ele mantinha esses
relatórios a um número razoavelmente pequeno, mas a diversidade era o que lhe
dava um panorama claro. Para tanto, você deve encorajar a discussão franca em
toda a organização, com os membros confiando que podem fazer isso. Escute os
seus soldados rasos. As suas reuniões devem ser animadas, sem que as pessoas se
preocupem muito se vão ferir egos e ofender os outros; você precisa de uma
diversidade de opiniões. A fim de permitir essa franqueza, tenha cuidado nessas
discussões para não sinalizar a sua preferência por uma opção ou decisão em
particular, pois isso levará sutilmente a equipe a seguir a sua liderança.
Traga até especialistas e indivíduos de fora para expandir a perspectiva do
grupo. Quanto mais abrangente for o processo de deliberação, maior será a
conexão à realidade, e melhores serão as suas decisões. É claro que o processo
pode levar tempo demais, mas a maioria das pessoas peca pelo oposto, tomando
decisões apressadas a partir de informações altamente filtradas. Estabeleça o
máximo de transparência possível: quando as decisões forem tomadas, compartilhe
com a equipe a maneira como chegou a elas e com que propósito. Estenda essa
comunicação aberta à habilidade do grupo de criticar a si mesmo e ao próprio
desempenho, em especial após quaisquer erros ou fracassos. Tente transformar
isso numa experiência positiva e animada, com o foco não em encontrar bodes
expiatórios, mas no funcionamento geral do grupo, que se mostrou abaixo do
padrão. Você quer que o grupo continue aprendendo e se aprimorando. Aprender a
partir dos erros tornará a equipe muito mais confiante ao seguir em frente.
Contagie o grupo com emoções produtivas. No ambiente de grupo, o ser humano é,
por natureza, mais emocional e permeável aos ânimos dos outros. Você deve
trabalhar com a natureza humana e transformar isso em algo positivo ao
contagiar o grupo com o conjunto apropriado de emoções. As pessoas são mais
suscetíveis aos ânimos e atitudes do líder do que ao de qualquer outro. As
emoções produtivas incluem a calma. Phil Jackson, o treinador de basquete mais
bem-sucedido da história, notou que muitos treinadores tentavam incentivar o
time antes de um jogo, deixando-os entusiasmados e até zangados. Ele julgava
muito mais produtivo incutir um senso de tranquilidade que ajudava os atletas a
executarem o plano de jogo e a não reagirem de forma exagerada aos altos e
baixos da partida. Como parte dessa estratégia, sempre mantenha o grupo
concentrado em completar tarefas concretas, o que deixará a todos naturalmente
calmos e com os pés no chão. Contagie o grupo com um senso de resolução que
emane de você. Não se aborreça com os contratempos; continue avançando e
trabalhando nos problemas. Seja persistente. O grupo perceberá isso, e
indivíduos sentem vergonha de se tornarem histéricos diante da menor alteração
nas condições. Tente transmitir ao grupo a sua autoconfiança, mas tenha cuidado
para que isso não degringole para uma noção de grandiosidade. A sua autoconfiança
e a do grupo resulta, em larga medida, de um histórico de sucesso. Altere as
rotinas de tempos em tempos, surpreenda a todos com algo novo e desafiador.
Isso acordará os membros e os tirará da complacência que pode se estabelecer em
qualquer grupo que obtém o sucesso. O mais importante é que demonstrar a falta
de medo e uma abertura geral a novas ideias terá o efeito mais terapêutico de
todos. Os membros do grupo se tornarão menos defensivos, sendo encorajados a
pensar por conta própria, e a não operar como autômatos. Construa um grupo
experiente em conflitos. É essencial que você conheça bem o seu grupo, as suas
capacidades e fraquezas, e o máximo que pode esperar dele. No entanto, as
aparências enganam. No trabalho cotidiano, as pessoas podem parecer motivadas,
conectadas e produtivas. Contudo, acrescente alguma tensão ou pressão ou até
uma crise e, de repente, verá um lado bem diferente delas. Algumas começam a
pensar mais em si mesmas e a se desconectar do espírito de grupo; outras se
tornam ansiosas demais e contagiam os demais com os seus temores. Parte da
realidade que você precisa comandar é a força real da sua equipe. Seja capaz de
avaliar a tenacidade interna relativa da equipe antes de ser lançado numa
crise. Dê a vários membros algumas tarefas relativamente desafiadoras ou prazos
de entrega mais curtos do que o habitual, e veja como eles respondem. Algumas
pessoas se provarão à altura das circunstâncias e trabalharão ainda melhor sob
pressão; considere-as um tesouro a ser guardado. Lidere numa ação que seja nova
e levemente mais arriscada do que o normal. Observe com atenção como os
indivíduos reagem à ligeira quantidade de caos e incerteza que se desenrolar a
partir daí. É claro que, depois de quaisquer crises e fracassos, você deve
utilizar esses momentos como uma maneira de avaliar a força interior das
pessoas, ou a falta dela. Tolere alguns tipos temerosos que tenham outras
virtudes, mas não muitos. No fim, você quer um grupo que tenha passado por
alguns conflitos, lidado com eles razoavelmente bem, e tenha sido testado sob
pressão. Os membros não desfalecem ao sinal de novos obstáculos e, na verdade,
lhes dão as boas-vindas. Dessa forma, conseguirá expandir os limites do que
pode pedir aos membros, e estes sentirão uma pressão ascendente poderosa para
superar desafios e provar a si mesmos. Um grupo assim é capaz de mover
montanhas. Por fim, gostaríamos de nos concentrar na saúde psicológica dos
indivíduos, e em como um terapeuta talvez consiga consertar quaisquer problemas
que eles possam ter. O que não levamos em consideração, porém, é que estar num
grupo disfuncional pode tornar os indivíduos instáveis e neuróticos. O oposto
também é verdade: ao participar de um grupo da realidade de alto funcionamento,
é possível nos tornarmos saudáveis e completos. Essas experiências são
memoráveis e transformadoras. Aprendemos o valor da cooperação num nível
elevado e a ver o nosso destino entrelaçado com aqueles em redor. Desenvolvemos
uma empatia maior. Ganhamos confiança nas nossas próprias habilidades, que são
recompensadas num grupo assim. Nós nos sentimos conectados à realidade. Somos
levados pela pressão ascendente do grupo, alçando a nossa natureza social ao
nível alto que deveria ter. É o nosso dever, como seres humanos esclarecidos,
criar o maior número possível de grupos assim, tornando a sociedade mais
saudável no processo.
A loucura é
algo raro nos indivíduos – mas é a regra em grupos, partidos, povos e eras. —
Friedrich Nietzsche
Greene, Robert
As leis da natureza humana [livro eletrônico] / Robert Greene; tradução de
Angela Tesheiner. – São Paulo: Planeta, 2021.
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