Um café com Sêneca. DAVID FIDELER
FIDELER, David. Um café com Sêneca. 1. ed. - Rio de Janeiro: Sextante, 2022.
8 fundamentos da filosofia estoica:
1. 1] “Viva
de acordo com a natureza” para encontrar a felicidade.
2. 2] A
virtude, ou excelência do caráter interior, é o único bem
verdadeiro.
3. 3] Algumas
coisas “dependem de nós” ou estão inteiramente sob nosso controle, outras não.
4. 4] Embora
não possamos controlar o que acontece conosco no mundo exterior, podemos
controlar nossos juízos interiores e o modo como reagimos aos acontecimentos da
vida.
5. 5] Quando
acontece algo negativo ou quando somos atingidos pela adversidade, não devemos
nos surpreender, e sim enxergar o fato como uma oportunidade para criar uma
situação melhor.
6. 6] A
virtude, ou caráter excelente, é uma recompensa em si mesma. Mas também resulta
em eudaimonia, ou “felicidade”, um estado de tranquilidade mental e alegria
interior.
7. 7] A
verdadeira filosofia envolve “progredir”.
8. 8] É
essencial que nós, como indivíduos, contribuamos para a
sociedade.
A amizade estabelece entre nós uma parceria em todos os aspectos. Nada é bom ou ruim apenas para um de nós: compartilhamos a vida. Ninguém que se preocupe somente com o próprio bem pode viver feliz. Se você quiser viver para si, precisa viver para o outro. Com cuidado e respeito especiais, esse companheirismo une a humanidade como um todo e garante a todos nós certos direitos em comum. Mas também é útil para nutrir o tipo de amizade mais próxima, da qual tenho falado. Pois alguém que tem muito em comum com outro ser humano terá tudo em comum com um amigo. p.33
TRÊS NÍVEIS DE AMIZADE
Há mais de 2 mil anos, Aristóteles (384-322 a.C.) já tinha enfatizado a
importância da amizade, a qual dividiu em três tipos. Ele
afirmou que é
impossível viver uma vida feliz sem amizades
significativas. Embora seja
improvável que você estude sobre a amizade na faculdade de
filosofia, esse
assunto foi tão crucial para Aristóteles que ele dedicou
uma parte de Ética a
Nicômaco, sua principal obra, para explorar a natureza e o
significado desse
sentimento.
O nível mais básico de amizade,
segundo Aristóteles, depende do
benefício mútuo. Essas amizades por vantagem são
semelhantes aos contatos
de trabalho que você faz em um evento de networking. São
mais superficiais
e breves, pois geralmente são egoístas: quando o benefício
de um dos lados
deixa de existir, a amizade também se dissolve. Eu não
chamaria essas
pessoas de amigas, e sim de conhecidas. Nas palavras de
Sêneca: “A
verdadeira amizade é despojada de dignidade quando alguém
faz um amigo
apenas para ampliar seu ganho pessoal.”
Outra forma de amizade depende do prazer mútuo. Essas
amizades por
prazer consistem em pessoas apreciando a companhia umas das
outras. Isso
pode incluir um colega de bar, alguém com quem você gosta
de ir ao cinema
ou de passar o tempo.
Para Aristóteles, o nível mais profundo de amizade é o
que se confere na
admiração mútua: as amizades
por caráter são baseadas em algo bom ou
virtuoso que uma pessoa percebe em outra. Exigem confiança
e
investimento de tempo, e podem ser o tipo de vínculo que
facilmente dura a
vida toda. Aristóteles declarou que essa amizade é
“perfeita”, pois implica
compartilhar sua vida interior e desejar sinceramente o bem
da outra
pessoa. E, como é preciso investir tempo nesse tipo de
troca, a quantidade
de amigos verdadeiros acaba sendo limitada.
Tanto Aristóteles quanto Sêneca acreditavam que nenhuma
vida
humana pode ser totalmente satisfatória no isolamento, sem
o vínculo de
amizades verdadeiras baseadas no amor e no conhecimento de
outrem.6
Igualmente importante é o fato de que, ao passar o tempo e
conversar com
outras pessoas, também podemos desenvolver nossas
qualidades interiores.
Um amigo é para o outro uma espécie de espelho, pois, ao
observar em
alguém qualidades que você mesmo ainda não desenvolveu,
você se inspira
a aprimorar seu caráter, a se tornar uma pessoa melhor.7
Essa é a arte perdida da amizade que Sêneca e Lucílio
praticavam e que
não era apenas filosófica, mas repleta de afeto sincero.
Fundamentado em
um diálogo envolvente e no desejo de bem-estar do outro,
esse é o tipo de
amizade pelo qual as pessoas anseiam, mas para o qual não
temos muitos
exemplos. Essas amizades raras e mais profundas, que nos
parecem
significativas, dão a sensação de que somos mais humanos e
estamos
plenamente vivos; não apenas aumentam nossa qualidade de
vida, como
também nos tornam pessoas melhores.
FIDELER, David. Um café com Sêneca. 1. ed. - Rio de
Janeiro: Sextante, 2022.
p.36 - 37
“Viver o momento presente e perceber como é completo e
perfeito exatamente como é.”
p. 61
"O passado e o futuro estão ausentes e
não podemos sentir nenhum deles, só as emoções, as opiniões ou a
imaginação podem ser fonte de dor." p.62
p.212 - EXERCÍCIOS FILOSÓFICOS DO ESTOICISMO
OS ESTOICOS ERAM FILÓSOFOS QUE BASEAVAM SUAS IDEIAS E CONCLUSÕES NO
pensamento racional. Dito isso, como em outras escolas filosóficas antigas,
eles praticavam vários exercícios para reforçar suas ideias. E usavam as
meditações com propósitos terapêuticos para reformular psicologicamente
as situações e reduzir o sofrimento humano. Outras meditações se
concentravam em relembrar os processos da natureza e nossa relação com o
todo.O que se segue é uma breve lista de alguns exercícios filosóficos que você
pode encontrar nas obras dos estoicos romanos.
Vários deles foram inspirados em filósofos antigos. Muitos, mas não
todos, foram discutidos anteriormente neste livro. Para ler mais sobre o
assunto, veja Stoic Spiritual Exercises (Exercícios espirituais estoicos), de
Elen Buzaré.
Lembre-se da dicotomia do controle. Algumas coisas dependem de nós,
outras não. Dedique sua atenção ao que você pode controlar, como o
desenvolvimento de um caráter bom, e não em elementos do acaso ou da
Fortuna, que escapam ao seu controle.
Lembre-se do papel do juízo. As coisas em si não nos irritam. São os juízos
ou opiniões sobre elas que causam sofrimento.
Contemplação do sábio. Imagine que uma pessoa sábia como Sócrates está
observando suas ações. Ao enfrentar uma situação difícil, pergunte-se como
essa pessoa sábia reagiria.
Diário filosófico. Crie seu próprio caderno de meditações e ensinamentos
estoicos, como Marco Aurélio fez, com lembretes para si mesmo. Pegue as
ideias filosóficas centrais e as reformule com suas próprias palavras, ou
detalhe em seu diário como você pode fazer uso delas.
Reavaliação diária. Ao fim de cada dia, reflita sobre suas ações. Faça a si
mesmo as seguintes perguntas: O que eu fiz bem? O que fiz mal? Como
posso melhorar? O que deixei de fazer?
Transforme a adversidade em algo melhor. Quando você encontrar a
adversidade, transforme-a em algo melhor. É possível criar o bem em
qualquer situação, se reagirmos com virtude.
Premeditação da adversidade. Imagine brevemente quaisquer adversidades
que você poderá enfrentar no futuro. Depois, deixe os pensamentos se
dispersarem. Ao contemplar as adversidades antecipadamente, você tira o
poder delas, caso venham mesmo a acontecer.
Cláusula de reserva estoica. Quando você iniciar um projeto, viajar, fizer
um planejamento, diga a si mesmo: “Aceito o destino.” Tenha em mente que,
apesar de suas intenções serem as melhores, algo fora do seu controle pode
interferir nos seus planos.
Contemplação do todo. Perceba que você é apenas uma parte minúscula de
um universo inteiro, mas, ainda assim, parte do universo. Por um momento,
abra sua mente para abarcar todo o cosmos e vivencie sua conexão com o
todo.
Visão do alto. Imagine que você está muito acima da Terra, no espaço,
olhando-a do alto. Então lembre-se de como seus problemas pessoais são
pequenos no grande esquema das coisas.
Contemplação da mudança. Medite sobre como todas as coisas na natureza
estão em constante mudança, e como tudo passa por uma transformação
contínua por períodos curtos ou longos.
Contemplação da impermanência. Perceba que tudo que você possui lhe
foi dado por empréstimo. Lembre-se de que é certo apreciar os dons da
Fortuna enquanto eles estão conosco, emprestados, mas que um dia teremos
de devolvê-los.
Memento mori. Reflita sobre sua própria condição mortal, a condição das
pessoas que você ama como seres mortais, e sobre a morte como sendo
apenas o estágio final e natural de estar vivo. Agradeça pelo tempo que você
tem pela frente e se esforce para usá-lo com sabedoria.
Viva com gratidão. Perceba, a cada dia, que tudo que você tem é um
presente do universo. No fim da vida, olhe para tudo que viveu como uma
dádiva, com o sentimento de gratidão.
Viva no momento presente. Não permita que sua mente se antecipe ou se
preocupe com o futuro, pois isso é fonte de ansiedade. Em vez disso, planeje
o futuro de forma racional e lembre-se de que o momento presente é tudo
que temos. Caso comece a sentir ansiedade, tenha consciência disso e volte
sua atenção para o presente. Lembre-se de que, quando o futuro chegar,
você enfrentará os acontecimentos com a mesma racionalidade que enfrenta
hoje.
Aja pelo bem comum. Lembre-se de que você é parte da comunidade
humana e de que nascemos para ajudar uns aos outros. Lembre-se de agir
pelo bem das outras pessoas.
Analise suas impressões com cautela. Não aceite as coisas por seu valor
aparente nem faça juízos precipitados. Recue um passo e tenha cautela ao
analisar as evidências antes de formar uma opinião. Se as evidências não
forem firmes o suficiente, interrompa totalmente qualquer juízo.
Comentários
Postar um comentário